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sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O Significado das coisas e as Coisas dos significados


É comum, no mundo místico, procurar significados ocultos em números, somatórias de dígitos, em alinhamentos estelares, planetários, etc. Mais do isso, é assumir como certo o evento (geralmente de ordem apocalíptica) quando a idéia é levantada por um especialista em assuntos espirituais, seja um sensitivo, um mestre altivo ou mesmo ambos os aspectos sob um contexto profético.

Com o avanço dos meios de comunicação, isso se torna cada vez mais incontrolável. Uma percepção transcendental é compartilhada num grupo fechado; em meia hora, a idéia está num blog de um dos alunos ou mesmo do professor em questão; em algumas horas, todos os seguidores estão unidos em prece catártica para tentar reverter a situação (com a desculpa de tentar compreendê-la) ou mesmo congelados pela notícia bombástica. E em alguns dias, pessoas fora do grupo inicial conhecem o fato, incluindo observações sincréticas do seu próprio dogma (seja uma conjunção astrológica que ocorre a cada 1.600 anos ou em razão de um 5 anual, aliado a um conflito de Troncos Celestes, Ramos Terrestres, mês interpolado lunar e o tão temido San Sha ou Tai Sui no calendário chinês).

Alguns exaltam ainda mais as interpretações, afirmando que a data em questão será bem pior que dezembro de 2012. Ou seja, estamos perdidos, pois faltam somente alguns dias ou até algumas horas para o evento cataclísmico (e, naturalmente, não tivemos tempo para nos preparamos). Deixamos de viajar, de fazer o que faríamos, de ser como somos. Uns decidem fazer retiros para se conectar com o cosmos, outros entram em transes xamânicos para louvar a Mãe Terra e pedir perdão. Enfim, sendo num caminho ou outro, costuma existir uma similaridade irônica nesses atos: tentar convencer o amigo ou o familiar incrédulo que agora “é pra valer...”, que o peso sentido na alma e no corpo finalmente terá uma justificativa plausível e melhor que isso, será entendido pelos entes queridos!

Bem, passa-se o dia D e nada inusitado acontece. Nenhuma bola de fogo nos céus da Califórina, nenhuma inversão de polaridade visível. Procuram-se indícios, forçando alguns encaixes de maneira exagerada, como o deslizamento na China, o alastramento do incêndio nas florestas européias, o avião que caiu na Baia de Guanabara, o caso Bruno, etc. Mas querendo ou não, alguns questionamentos silenciosos começam a surgir:

- Será que, exatamente pelas orações dos iniciados e amor incondicional dos mestres pela humanidade, conseguiu-se reverter a catástrofe esperada?

- Será que isso foi postergado para alguma data futura a ser divulgada pelos avatares de plantão?

- Será que o que estava previsto realmente ocorreu, mas em outros planos ou mesmo em diferentes realidades, explicados somente por físicos teóricos, vulgo quânticos ou relativistas?

- Ou o que foi exprimido pode ter até sido uma leitura isenta de máculas, mas somente uma visão probabilística, nada além das várias outras que são captadas nesses tempos desafiadores?

O problema não é a divulgação em massa de uma data referente a um suposto "evento global”; isso sempre aconteceu e vai acontecer na história da humanidade, já que somos seres emocionais limitados num tempo e num espaço; em suma, em dimensões. Queremos medir, calcular, direcionar....tudo para nos sentirmos mais seguros.

A questão a ser pensada, na verdade, está além de averiguar se o evento ocorreu ou não (ou se vai acontecer e como), mas de que maneira reagimos a notícias como essa, pois se tais informações podem até ser consideradas estapafúrdicas por um lado, sob outro foco poderiam trazer grandes significados arquetípicos.

Será que realmente mudamos nossa postura de Ser nesses instantes? Ou somente reagimos conforme nossos protocolos de autopreservação, que se para alguns é o dinheiro e a carreira, para os que se firmam como espiritualistas acaba sendo o uso da uma técnica salvadora, seja a oração, a meditação, o mantra exclusivo, o Feng Shui, etc? De qualquer maneira, se qualquer desses movimentos foi gerado pelo medo, isso não é sabedoria, mas sim temor...e tal ato não se transformará em conscientização necessariamente, mas apenas numa busca incessante por outros significados vazios, sinais do cosmos que adormeçam os problemas pessoais e de gurus que cumpram o papel de professores dos “porques”, e a quem se possa atribuir a culpa caso algo dê errado...

Hoje é sexta-feira 13. E afirmo que captei uma mensagem dos mestres espirituais do nível XYZ que o mundo como conhecemos vai terminar em poucas horas, talvez antes de você terminar esse artigo. Alguns poderão confirmar o que digo no calendário maia, chinês, celta, cristão; os sinais estão claros como Sol, exatos como os números. E com certeza, agregam mais do que uma visão probabilística, pois contam com o tal do Elemento Profético, um cálculo que corrige as variáveis, que elimina o Princípio da Incerteza de Heisenberg.

Ou seja, acabou, já era, se foi, terminou. Mas talvez dê tempo de fazer uma
rápida pergunta antes do fim:

Quem sou eu agora? E mais do que isso, caso tudo tenha desaparecido e acorde sem as desculpas ou razões externas além de mim mesmo, o que sou?


Por Marcos Murakami